O ‘truque da memória’ de Sherlock Holmes e como ele funciona

Novo estudo indica que o palácio da memória de Sherlock Holmes ajuda nas memórias duráveis — e que quase qualquer um pode aprender a usar o método de loci

Condensado de Exame, 30/04/2022
Por Laura Pancini

O personagem fictício de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes, consegue se lembrar de tudo graças ao “palácio da memória”. Recentemente, pesquisadores descobriram que o método, que teve origem na Grécia Antiga, vai muito além da ficção e pode realmente ajudar as pessoas com memórias duradouras.

“Ficamos fascinados com a forma como é possível esse desempenho extraordinário da memória”, disse a principal autora do estudo, Isabella Wagner, neurocientista cognitiva da Universidade de Viena.

Como funciona o palácio da memória de Sherlock Holmes?

O “palácio da memória” é, na verdade, algo chamado técnica mnemônica, ou “método de loci”.

No método de loci, as pessoas navegam mentalmente por um espaço familiar. Para lembrar de alguma informação no futuro, a pessoa “deixa” a memória em algum lugar no caminho e, depois, refaz os passos para pegá-la.

Se alguém é familiarizado com o Parque Ibirapuera em São Paulo, por exemplo, ele pode deixar a palavra “livro” no Planetário, “garrafa d’água” no Museu da Arte Moderna (MAM) e “mercado” na Oca. Assim, se a pessoa deseja lembrar das palavras, ela pode refazer os passos exatos dentro do parque imaginário.

Esse método é utilizado para lembrar quantidades excessivas de informações, como séries de dígitos, baralhos de cartas ou listas de palavras.

De acordo com um dos autores do estudo, misturar lugares conhecidos com informações novas é uma técnica muito poderosa para aumentar a memória. Quase qualquer um pode aprender a usar o método dos loci, disse ele.

“Obviamente, requer tempo e prática regular e, portanto, pode não ser adequado para todos, mas é definitivamente possível ‘aumentar’ a memória e alcançar um desempenho de memória alto, ou mesmo excepcional”.

Como foi feito o estudo?


A equipe por trás do estudo encontrou 17 “atletas de memória”, que foram classificados em competições, e outras 16 pessoas que correspondiam aos atletas em características como idade e inteligência.

Os pesquisadores fizeram exames de ressonância magnética funcional (fMRI) do cérebro dos participantes enquanto eles estudavam palavras aleatórias em uma lista. Depois, os participantes analisaram três palavras por vez e respondiam se elas estavam na mesma ordem da lista original.

Na segunda parte do estudo, 50 pessoas foram recrutadas para aprender o método de loci do zero. Mas eles foram divididos em três grupos: um aprendeu o “palácio da memória de Sherlock”, outro aprendeu uma tática diferente de memória e o último não foi treinado de forma alguma.

Os cérebros foram escaneados com fMRI antes e depois do procedimento, como na primeira parte do estudo, e o mesmo exercício das três palavras foi feito.

Assim, a equipe conseguiu medir quem teria “memórias fracas” e quem teria “memórias duráveis”, que ainda são lembradas mesmo após 24 horas. Os pesquisadores testaram os participantes uma última vez, quatro meses depois.

Quais foram os resultados do estudo?

Participantes que treinaram com o método de loci mostraram uma memória melhor e mais duradoura em comparação com os outros métodos.

Curiosamente, aqueles que treinaram com a segunda técnica não tiveram um aumento significativo nas memórias de curto prazo, mas sim nas duráveis.

As pessoas treinadas com o método de loci lembravam cerca de 62 palavras da lista após 20 minutos, enquanto as treinadas com o outro método lembravam 41 e as não treinadas lembravam 36.

Após 24 horas, as pessoas que foram treinadas com o método de loci lembraram cerca de 56 palavras, contra 30 e 21 nos outros dois grupos, respectivamente.

Quatro meses depois, as pessoas treinadas com o método dos loci conseguiam lembrar cerca de 50 palavras, contra 30 e 27, respectivamente.

Algo inesperado que foi identificado pela equipe foi que, durante os exercícios, a atividade nos cérebros dos participantes diminuiu em áreas envolvidas no processamento da memória e na memória de longo prazo.

Em outras palavras, eles descobriram que menos ativação cerebral levou a uma melhor memória, o que pode ser porque o método de loci leva o cérebro a trabalhar com mais eficiência, disse um dos autores do estudo.

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